quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Exposição de fotografia Cidade Efêmera - Veronica Manevy

A jovem fotógrafa Veronica Manevy expõe seu trabalho no ateliê OÇO no centro de São Paulo e leva ao público 13 imagens feitas a partir de visitas no interior dos prédios Mercúrio e São Vito (Treme-treme) no período final de 2010 a inicio 2011, durante a demolição dos prédios no intuito de registrar todo o processo.

A ideia inicial era um trabalho documental, mas mudou de rumo e as fotos trazem uma outra impressão que vai além dos antigos prédios em demolição: “Durante as visitas fui encontrando outros caminhos, entendendo que eu poderia falar do abandono, da transformação na cidade sem necessariamente estar ancorada na identidade dos prédios. Andaimes, véus de proteção, ícones representativos da arquitetura do Centro revelam uma cidade velada”.

O curador e proprietário da galeria OÇO Claudinei Roberto que está no centro de São Paulo e transporta o visitante para o clima que envolve a áurea das imagens captadas, como afirma: “São Paulo, que tão frequentemente recebe o estrangeiro, parece recusar a revelação de sua identidade aos que dela se aproximam de maneira superficial, como um turista em vacância. O olhar de Veronica Manevy tem essa qualidade que refuta o monumento, mas não o monumental implícito nas mutações impressas na epiderme da cidade. Cidade velada, cidade revelada...fotografia intimista que nos devolve a um silêncio que nesta paisagem julgávamos perdido".
Segundo Veronica o trabalho de edição foi complexo. Após definir o recorte que quer e preciso então escolher as imagens que respeitem e compõe a ideia. O sentimento é recordado de um formato específico que remete quando se conhece um espaço que causou tantas polemicas:

“É uma sensação muito forte estar em um prédio que você sabe que em questão de meses deixará de existir. Moradores foram retirados com a informação que retornariam após uma revitalização.
São sentimentos contraditórios, como fotógrafa sabia que tinha uma oportunidade única, e eu tentei aproveitar ao máximo a excitação dessa experiência, por outro lado os resquícios de vandalismo de abandono mostravam do que se tratava tudo aquilo e essa densidade a gente percebe nas imagens” afirma Veronica.

Veronica Manevy chega a sua primeira exposição com o prêmio a homenagem aos 457 anos de São Paulo realizado pela Secretaria Municipal de Cultura e a Motorola, ficou entre as finalistas do Prêmio ClubTransatlantico de fotografia, idealizado por Caio Reisewitz.

Sua Formação acadêmica é em Educação Artística com Habilitação em Música, Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e  Técnico em Processos Fotográficos: Senac

Local e data:
Praça Carlos Gomes, 115, Liberdade
Nome da exposição: cidade efêmera
03 dezembro às16h a 14 de janeiro de 2012
Quarta, sexta e sábado das 14h às 19h

Site: www.veronicamanevy.com.br

Contato com Veronica Manevy:
011- 6137-0879
011- 3151-6409














segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Bebo, logo existo: guia de um filósofo para o vinho




Um antídoto bem-humorado para a pretensiosa conversa oca que hoje se escreve sobre o vinho e uma profunda apologia à bebida sobre a qual a civilização foi fundada.

O filósofo Roger Scruton descreve neste livro uma forma ainda pouco difundida e saborosa sobre o vinho para uma boa leitura; a de que descrever um vinho como apenas como uma expressão solo pode ser um erro, o autor lembra da educação que tornou a sua experiência proporcionada por Balzac e  Le tour de France, Flaubert, pelas aldeias em torno de Fontainebleau, pelos prelúdios de Debussy e pela música composta por Berlioz sobre versos de Gautier e, segundo ele, obviamente por Proust. O que quer que venha a sentir na taça, Scruton afirma que sabia antecipadamente que seria uma parte da França, de onde vêm seus vinhos prediletos.
O livro lembra que quando consumido de forma adequada, o vinho melhora o convívio humano e tem o poder de colocar o amor e o desejo a uma distância que os torna passíveis de ser discutidos. Quando consumido socialmente, durante ou depois de uma refeição, um bom vinho deve ser acompanhado de um bom tema de conversa, tema que deve perdurar juntamente com a bebida:
“Hoje me parece que o melhor de todos os remédios para o orgulho é o vinho...Depois de uma taça ou duas eu me sinto capaz de fazer o que todos nós devíamos fazer, mas somos proibidos pelo orgulho: rejubilar-me com o sucesso dos meus rivais. Afinal de contas um mundo que contém sucesso é melhor do que um mundo sem ele, e sob a influência do vinho todo sucesso inspira apreço em quem o bebe. O vinho oferece um vislumbre do mundo sub specie aeternitatis, em que as boas coisas mostram seu valor, independentemente da pessoa que as revela”.

Os antigos tinham uma solução para o problema do álcool: envolver a bebida em rituais religiosos, tratá-la como a encarnação de um deus e marginalizar o comportamento destrutivo como obra do deus, e não do adorador. Uma boa artimanha, pois é bem mais fácil reformar um deus do que um ser humano:
“Mas a solução religiosa não foi a única registrada: em vez de excluir da sociedade a bebida, os gregos construíram um novo tipo de sociedade em torno dela. Nos banquetes, eles descobriram o costume que revela o melhor do vinho – a bebida que nos leva a sorrir para o mundo e faz o mundo sorrir para nós”.Conta o autor.
De acordo com Scruton, o vinho, bebido no estado de espírito certo, é definitivamente bom para a alma. E não há melhor acompanhamento para ele do que a filosofia. Ao pensar com o vinho, aprendemos a beber em pensamentos e a pensar em goles.
Assim como o desenrolar do livro, o humor, às vezes ácido, com pensamentos ébrios. O apêndice trás pérolas que o autor associa com pensadores como: Berkeley: Caso precise consumir Berkeley, acompanhe sua leitura com uma taça de água de alcatrão e encerre o assunto., Nietzsche. A primeira obra de Nietzsche, O nascimento da tragédia, proclamou as origens religiosas da arte e a redescoberta de Dioniso como o deus da alegria, da dança e do retorno. Desaprovado pelos críticos acadêmicos, o livro encerrou a carreira precoce do autor como professor de filologia. No entanto, e a melhor obra que já se escreveu sobre a tragédia, e no meu ponto de vista a obra de Nietzsche mais claramente voltada para as questões intelectuais...Assim, bebamos ao autor de O nascimento da tragédia, mas com uma poção franzina, hipocondríaca, talvez um dedo de Beaujolais num copo com água gasosa ate a boca”.

Ou ainda, Russell: Os livros de Russell precisam ser rigorosamente distinguidos em dois tipos, disse Wittgenstein. Os que tratam de lógica e dos fundamentos da Matemática devem ser encadernados em azul, e todos devem ser estimulados a os ler. Os de política e filosofia popular devem ser encadernados em vermelho e proibidos.... sugiro um Chateau Beychevelle ou um Chateau Ducru-Beaucaillou de safra superior, por exemplo 1988 ou 1995’ e assim como Sartre,  Wittgenstein, Strauss, Hamvas, Sam, o Cavalo, Patočka, Schopenhauer. Hegel, Fichte, Kant, Hume, Bacon, Maimônides, Tomás de Aquino, Averróis, Platão entre outros, ou não beber nada, como em Heidegger: Que poção deve complementar o filosofo que nos disse: “Nada nulifica”? Erguer uma taça vazia até os lábios e sentir a sua descida – nada, nada, nada, ao longo de toda a extensão do tubo: essa certamente e uma experiência que encantara o verdadeiro conhecedor. O vinho é algo com que se vive de acordo, e também se vive de acordo com uma idéia. Bebido na ocasião certa, no lugar certo e na companhia certa, o vinho é o caminho para a meditação e o arauto da paz.”
Sobre o autor:
O professor Roger Scruton é Resident Scholar do American Enterprise Institute, em Washington, e Senior Research Fellow do Blackfriars Hall, em Oxford. Escreveu também Breve história da filosofia moderna, Coração devotado à morte e Estética da arquitetura.
Dados Técnicos
Título: Bebo, logo existo: guia de um filósofo para o vinho
Autor:  Roger Scruton
Editora Octavo – http://www.octavo.com.br
Tradução: Cristina Cupertino
Título Original: I Drink Therefore I am: A Philosophers Guide to Wine
Formato: 23 X 16 cm
Nº de páginas: 304
ISBN: 978-85-63739-06-3
Edição: 1ª

Preço: R$65,00


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11- 8273-6669
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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Lançamento: COPACUBANA, de Hector Bisi - Ed. Edith.



COPACUBANA, de Hector Bisi.
Ed. Edith.

Copacubana é um livro que um tradutor se recusou a traduzir, uma escritora hesitou em fazer seu lançamento no mesmo evento e a própria mulher do autor preferiu nem ler. E a polêmica não para por aí. Hector Bisi recebeu um irreverente e sincero prefácio do lendário ator Paulo César Peréio, que revela: “Há confusão entre a primeira e a terceira pessoa...” e declara: “Qualquer manifestação subjetiva só é interessante na medida que o sujeito me interessa, e não é o caso.”

Desafiando o bom senso e “gostando de apanhar”, o carismático autor estreante com vocação para enfant terrible uniu-se ao editor que, notoriamente, gosta de publicar o impublicável, Vanderley Mendonça (do Selo Demônio Negro e, agora também, da Edith). E assim COPACUBANA veio ao mundo literário neste mês de setembro. Numa época de lançamentos insípidos, isso torna o livro de Hector Bisi minimamente interessante.

O que move Bisi a enfrentar (e provocar) tantos desacatos é a paixão pelo temas das mulheres humildes, ou como elas próprias diriam, “humirdes”. Nasce aí o neologismo "mirdes", que pontua todo o livro e é um apelido "carinhoso" que o seu personagem principal, um quarentão obcecado por garotas novinhas, inventou para se referir a elas. Detalhe, todas têm a mesma característica: são feias e suburbanas. Seu bordão é “Não sou pedófilo, elas é que são gerontófilas: tem tesão por homens mais velhos.” A mesma temática que levou o humorista Rafinha Bastos à fama, o tratamento politicamente incorreto das questões de gênero, recebe aprofundamento neste dinâmico romance tragicômico.

Outra obsessão do autor é com a América Latina. "A gente tem que parar de procurar semelhanças entre São Paulo e Nova York, de ser tão influenciado pelos americanos. Enquanto o cinema deles é uma droga, a gente tem escritores sensacionais como o Pedro Juan Gutiérrez, em Cuba, o César Vallejo e o Efraim Medina, na Colômbia”. É possível encontrar semelhanças entre a escritura de Hector e a do cubano Pedro Juan, criador do "realismo sujo" e personagem real do livro, mas ele dissimula: "Meus personagens chegam a ser românticos e, além disso, eu tenho muito mais cabelo do que o Pedro Juan".

No livro, Pedro Juan (o personagem) vem ao Rio como convidado especial de um Congresso de Travestis-escritores em Copacabana, no Rio de Janeiro.“Deste encontro nasce COPACUBANA, o lugar mais quente ao sul de Havana.” Em dupla, os dois homens vivem aventuras com as mirdes até que o quarentão parece se apaixonar verdadeiramente por uma delas. Seria uma redenção?

Hector nasceu em Belém, morou em Londres e é hoje um paulistano que ama o Rio. Já foi engenheiro na Amazônia, servente de obras em Londres e agente de modelos em São Paulo. Desenvolveu sua escritura nas oficinas literárias do escritor Marcelino Freire, co-editor do Selo Edith, e de Mario Bellatin, premiado autor mexicano. Para provar que não é a inspiração de seu primeiro protagonista, dedicou o livro à sua mulher: “Mais do que a mulher da minha vida, a mulher da minha memória. Todas numa só.”

Capa: COPACUBANA tem uma capa criativa e com o projeto gráfico, assinados pelo diretor de arte Renan Bulgari. Com isso, os leitores podem ter uma certeza: se o parecer negativo do tradutor, a irreverência crítica de Peréio e a intuição da musa de Hector Bisi estiverem corretos, vão ter pelo menos um belo livro na estante.

Contato com autor:

Informações:
Copacubana
Editora: Edith
Autor: Hector Bisi
Preço: R$ 30,00
108 págs – 14 X 21cm
ISBN 978-859039352-8

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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Editora Octavo é indicada Prêmio Jabuti 2011 em duas categorias


Editora Octavo comemora a indicação de finalista do livro Nau dos Insensatos para o Prêmio Jabuti 2011 da Câmara Brasileira do Livro em duas categorias a de tradução e de capa.  Considerado o primeiro best-seller de todos os tempos, publicado originalmente em 1494, ironiza a sociedade do seu tempo.
                             
Seu apelo foi tão grande que, no tempo de vida do autor, a obra foi editada 15 vezes e traduzida para várias línguas, tornando-se a primeira obra da literatura alemã a ser traduzida para o inglês. Ao morrer, em 1521, Sebastian Brant era o autor mais renomado da Europa.

Sendo a obra a primeira leva de livros da Editora Octavo o editor Isildo de Paula Souza comenta: “Após mais de 23 anos de mercado editorial em grandes livrarias, essas indicações é um verdadeiro estímulo para a continuidade do nosso trabalho que acabou de começar aqui na Editora”.

Os livros da editora são negociados com agentes estrangeiros como Slow Reading, do canadense John Miedema, Leve-me com Você, do francês Paul Desalmand ou achados de domínio público que são traduzidos com a Nau dos Insensatos (alemão) ou o primoroso trabalho do livro Da Origem e Propagação do Café de Antonie Galland (1001 noites) com capa dura com verniz com cheiro de café.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Lançamento: Livro de poesia Sambaqui – Edson Cruz


Contemplado com a Bolsa de Criação Literária do Programa Petrobras Cultural, para terminar de produzir e editar seu livro Sambaqui com a seguinte justificativa dada pelos jurados: “O livro de Edson Cruz apresenta poemas curtos, de rica e instigante imagética.”, o poeta, editor e agitador (ciber)cultural lança o livro Sambaqui com o crivo de poetas e literatos como Antonio Cicero, Reynaldo Damazio, Ronald Augusto e Ricardo Silvestrin.

Figura conhecida na web, nos anos 2000, editou o histórico site de literatura CAPITU - site que fazia parte da home do UOL como indicativo para leituras e livros e, depois, concebeu o site CRONÓPIOS, onde pode dialogar, trocar e publicar grande parte da literatura contemporânea brasileira e, também, hispano-americana, até 2009, quando passou a se dedicar ao seu livro e a mediar mesas em eventos literários no Brasil, Uruguai e Argentina.

Os poemas selecionados para edição dialogam com a presença e a percepção da morte e vão na contramão de uma poética narrativa e prosaica que se tornou corriqueira em nossa poesia contemporânea. Primando pela concisão, os versos não descartam a musicalidade e a rima. A leitura embrenha os leitores na melancolia perante os fatos da vida e na direção que as coisas têm tomado. O autor comenta:

“É curioso, e talvez seja uma falha de caráter, mas quando estou alegre não consigo produzir nada que valha a pena. Mas quando leio um poema que acabo de escrever e que, penso, mantenha-se em pé, mesmo respingando bile, fico muito feliz. Paradoxos da criação.”

E completa sobre as suas inspirações: “A musa de qualquer poeta é sua biografia pessoal, sua memória, suas perdas. Seu jeito particular de ver as coisas e o mundo. Afora isso, há sempre o diálogo com o que podemos chamar de tradição poética e textual, mesmo que ela seja uma tradição bem pessoal e arbitrária”.

Nascido em Ilhéus/BA, conheceu a pobreza extrema em São Paulo e considera ter sido salvo pelo convite que lhe fez um padre, para estudar no Seminário de São Roque – em regime de semi-internato –  e, quem sabe, seguir a carreira eclesiástica. Mas conseguiu escapar do que poderia ter sido sua sina tendo a oportunidade de conviver com uma biblioteca pela primeira vez na vida. Teve aulas de Latim, Francês, Espanhol, Retórica, Canto e outras coisas impensáveis para um menino em suas condições sociais e culturais. Hoje é revisor publicitário da premiada agência J.W. Thompson do Brasil.

Com humor e a inteligência navalhesca, responde quando perguntado: Aonde você quer levar os leitores?

“Sei lá. Às vezes, a pretensão é maior do que a fatura. A musa quase sempre é caprichosa. Não dá mole, assim, pra qualquer baianinho. Mas me vingo acreditando no desabafo de Freud, que disse, não sabemos se desanimado com a empreitada inglória da Psicanálise, ou com uma pontada de inveja dos poetas: ‘Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim”.

E sobre o que pretende provocar naqueles que se arriscam à leitura de seus poemas:

“Reflexão. Quiçá, alguma epifania. A poesia não tem muita moral no fim da história. Ou ela te toca, ou não. E se ela não te tocar, o azar é todo teu e não do poeta. Muito menos da poesia, que continua vicejando nas frestas dos muros e até em alguns poemas por aí”.



Contatos do autor:

EDSON CRUZ nasceu em Ilhéus, BA, e mora em São Paulo. Poeta, editor e revisor publicitário. Foi fundador e editor do site de literatura Cronópios (até meados de 2009) e da revista literária Mnemozine. Lançou em 2007, Sortilégio (poesia), pelo selo Demônio Negro/Annablume; O que é poesia?, como organizador, pela Confraria do Vento/Calibán; e uma adaptação do épico indiano, Mahâbhârata, pela Paulinas Editora. É professor no Curso Prática de Criação Literária da UnicSul/Terracota Editora, no Módulo Poema. Seu próximo desafio
na cibercultura será o site MUSA RARA – Literatura e Adjacências (www.musarara. com.br) E-mail: sonartes@gmail.com

Dados técnicos:

Título: SAMBAQUI
Editora: Crisálida Editora (www.crisalida.com.br)
Autor: Edson Cruz
Tema: poesia brasileira contemporânea
Formato: 14 x 21 cm | 64 p. | BROCHURA
ISBN 978-85-87961-63-1 | ano: 2011
Preço: R$ 20,00

Comentários críticos:

Um famosíssimo verso de Terêncio diz: “Nada do que é humano me é estranho”. Certos versos do poema “sol negro”, de Sambaqui, dizem, ao contrário: “tudo o que é humano /se tornou estranho”. Ora, sem dúvida por ter desejado que nada do que é humano lhe fosse estranho, o autor de Sambaqui tornou-se capaz de reconhecer e aceitar, olho no olho, a estranheza que de fato se abate sobre tudo o que é humano. Nesse reconhecimento e nessa aceitação, Sambaqui atinge seus mais admiráveis momentos, em diversos poemas de estranha, concisa e tensa beleza. Como dizem os versos finais do poema “salsugem”: “o que já foi / meu um dia / hoje / é alimento / da poesia”. É por não se furtar ao corpo a corpo com a estranheza da vida, da morte, da linguagem, do silêncio, da finitude, enfim, que não raras vezes – e, a cada uma dessas vezes, pela eternidade de um segundo, qual “gota de orvalho na manhã do Saara” – a poesia aqui triunfa.

Antonio Cicero


O que é e já foi, um dia, o homem – ou o ego scriptor de – Edson Cruz, está muito bem presentificado via linguagem (sistema que se exaure e se renova a cada gesto poeticamente crucial) nesse conjunto de poemas intitulado Sambaqui. Combinação de ecos, camadas: acervo harmônico, em sentido marioandradino, isto é, por oposição ao melodioso, ao dócil. O soft de base e o hard alusivo, entrelaçados em sua poesia, reconhecem similaridades entre John Cage e o samba, entre as redundâncias e a vertigem da cegueira, entre a dádiva imerecida e o sal que corrói a pele da alma. Edson Cruz é um poeta que mobiliza as palavras no poema de modo a deslustrar o entendimento pela intuição e a sugerir o entulho no antolho do sabido. O silêncio, constitutivo da composição do poema, uiva vivo em Sambaqui, para Edson Cruz trata-se de um “cão sem dono/ entregue/ à própria sorte”.

Ronald Augusto


Os poemas de Edson Cruz são navalha e acalanto; talham e afagam com o rigor de linguagem movido pela consciência dos sons e suas ressonâncias imagéticas. Entre labirintos em 3D na tela do computador, as palavras se rebelam como uivo, bile negra, sirenas a desorientar incautos Ulisses ou a enlouquecer vestais. A epifania dobra a esquina: sambaqui.

Reynaldo Damazio


O poema, esse objeto de inúmeras formas, tamanhos, assuntos, para em pé, solto no espaço. Nuvem que não se esvai.  Fazer um que seja bom é raro. Edson, em Sambaqui, fez vários. Do início ao fim do livro, não perde o tom da surpresa, do dizer que desdiz, das palavras selecionadas com pinça. Para mim, “Caravana solitária” e, sobretudo, “Bile negra”, como diria o Chacrinha, vão para o trono.

Ricardo Silvestrin