quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Apenas Acabou

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Apenas Acabou

Nk


A vida traz a paciência morna, a rotina e a loucura daqueles que fazem de si mesmo uma rocha antiga, cheia de musgos e com cheiro de mofo.
Sérgio estava se tornando uma destas coisas pesadas, sem sonhos e sem vida. Arrastava um relacionamento que qualquer um não desejaria nem para seu pior inimigo, lógico que existiam coisas boas, mas a ruins prevaleciam.
Após três anos com muitas felicidades e tristezas, não teve outra se não a separação. Não uma destas convencionais, bem caretas em que o casal briga e se pega, disputa as mesquinharias. Essa parte é a que ele acha a mais interessante nas pessoas: “Esse porta retrato foi comprado para o nosso casamento pelo Luizinho, sim você sabe quem é ele, é o primo de quinto grau da minha tia-avó Constance”, depois tira a foto de quando ainda eram felizes, rasga em pedacinhos e joga para o alto, como confete em baile de carnaval.
O de Sérgio foi muito bacana, depois de uma centena de brigas, inclusive daquela violentas, foi decidido que o amor era tão grande que deveríam tentar, sabendo que estavam juntos pelo hábito, no modelo em que seu parceiro acaba virando seu único amigo e pode ser a pior companhia, mas já não se saber viver sem.
O rapaz mudou de casa, assim não teria que conviver com toda a rotina e as pequenas coisas que irritam no dia-a-dia. Foi parar numa destas pensões arrumadinhas de estudantes classe média.
No começo estranhou, já que estava acostumado a viver em apartamentos grandes e com direito a todas as regalias.
Mas era limpa e barata, já que nunca vem uma desgraça só na vida, também tinha acabado de perder o trabalho, caiu de moto e estava deprimido tomando um monte de remédios para acreditar que isso o tiraria do buraco.
Para o seu total desencanto ou para obviedade de todos que os cercavam, não deu certo. Sérgio e Rebeca se encontravam nos fins de semana, mas as brigas continuavam. O pior para ele era a falta de sexo, já não faziam há muitos meses e as boas trepadas, aquela que faz com que se esqueça qualquer gritaria ou aquele vexame de bebedeira, se tornaram uma vaga lembrança.
E não era pouco tempo, esses meses poderiam ser juntados em ano, para ficar em unidade menor. A amizade prevalecia e sempre riam muito juntos, isso é verdade. Também eram muito bem quistos pelos amigos e por conhecidos, “nossa vocês estão até parecendo fisicamente um com o outro”.
Depois de praticamente seis meses se vendo poucos dias as coisas continuavam as mesmas. As ranhetices continuavam, mas a coisa se tornava mais grave. Os encontros eram como uma mulher que apanha. Espera o marido chegar em casa e fica ansiosa para que a surra seja o mais rápido possível, assim pode voltar para os afazeres de casa e esperar o dia seguinte.
Mas a coisa acabou em uma conversa amigável por telefone, sem o mesmo gosto do começo.
Apenas acabou.

Um comentário:

  1. Amor então é?
    essa mistura de cheiros e gostos
    e gestos e toques e desejos
    esse cruzar de pernas que se querem
    e esbarrar de bocas que se beijam
    em muitos e diversos
    ângulos magnéticos

    Amor então é?
    esse badalar de sinos,
    gemer de corpos
    contorcionismo e jogar de cabelos
    no gozo preciso sobre a paixão do amante
    esse querer de novo sempre pedir mais
    inventar novas formas de se devorar
    e explorar o terreno almejado que é o outro

    Amor então é?
    o fim disso tudo, suada separação
    na entrega suave do abraço
    ou mesmo no ir embora
    deixando apenas um vazio

    (pedro tostes)

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