Nas primeiras décadas do século XX, Paris era uma festa. A fama e o apelido vieram principalmente pela numerosa quantidade de artistas e, principalmente, escritores norte-americanos que foram morar em Paris, aproveitando-se do baixo custo de vida e da atmosfera inspiradora da cidade. O apelido foi merecido à atmosfera hedonista, embalada pelo vinho bom, barato e noitadas protagonizadas por celebridades internacionais.
Um século depois, a mesma cidade já não é uma festa, mas ainda guarda a mesma vocação literária, inspiradora e romântica, de tempos atrás. É justamente essa atmosfera que o escritor Paul Lodd, 59, retrata com tanta maestria em seu romance de estréia “De Escritores, Fantasmas e Mortos”. O livro se passa em sua maior parte pelas ruas do bairro latino Quartier Latin, com suas pequenas vielas e bistrôs, e caminhando por elas, o protagonista do romance encontra fantasmas literários que socorrem seus momentos de crise criativa.
O personagem Jean-Pierre repete uma rotina diária à procura de inspiração e, nessa trajetória, se envolve com outros personagens. Uma linda mulher e um intricado relacionamento com um amigo norte-americano parecem montar um quebra-cabeça que formam as bases de um enredo misterioso e um tanto fantástico. Em outro plano, numa composição clássica de “livro do livro”, Jerome é o autor dessa história à busca de um desfecho grandioso. Nessa procura, ocorre um paralelismo entre criatura e criador, resultando num final dramático, como conclusão de um mistério muito bem articulado: “Procurei dar vida aos personagens a partir da minha própria experiência como escritor”, diz Lodd.
O domínio da linguagem, com traço claramente maduros e personagem com traços psicológicos marcantes, Lodd é um autor com grande talento narrativo que, apesar de brasileiro, viveu boa parte dos seus 59 anos em viagens internacionais ministrando cursos relacionados à saúde da medicina, sua especialidade. Em Paris encontrou um lar, depois de aposentado, passou a se dedicar a leituras e a um intenso exercício de observação de situações, personagens, comportamentos: “Sempre estabeleci uma troca sensorial muito grande com meu ambiente”, explica, justificando a sua capacidade de reproduzir com tanta fidelidade o estilo de vida parisiense, um pouco “à maneira de Proust”.
Mas essa não é a única proposta de seu romance. Ao contrário, Lodd tece uma intrincada rede de fatos e personagens que parecem nunca organizar-se o suficiente para definir um roteiro tradicional. E são apenas nas últimas páginas, após uma leitura envolvente, é que o quebra cabeças se desfaz num desfecho inteligente que justifica plenamente o mistério de todo o romance.
Lodd é um escritor com muitos planos e grande produtividade intelectual: “Quero fazer uma carreira também fora do país”, diz ele. Em breve, o mercado literário verá mais um novo título de sua lavra e, possivelmente, não apenas no Brasil. Seus temas internacionais, plenos de um romantismo pós-moderno que resgata nobres valores literários, aguçam a curiosidade e o interesse não só de editores nacionais, mas também europeus. Nada mais justo: Lodd é um escritor global e seu livro de estréia é a mais plena comprovação dessa vocação.
Contato com autor:
E-mail : paul-lodd@paul-lodd.fr / marcoate@club.lemonde.fr
Skype: marco3813
Para conhecer sobre Paul Lodd:
Nascido em 11 de junho de 1951 no Rio de Janeiro, desenvolveu seu projeto de Pós-Doutorado no Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1997), com bolsa da FAPERJ. Concluiu o Doutorado na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires (1991) .Terminou todos os créditos do mestrado em Anatomia Humana, na UFRJ em 1983 (dissertação de tese apresentada no exterior) e possui cursos de especialização e aperfeiçoamento, respectivamente em Metodologia do Ensino Superior (UFRRJ-1982) e Ergonomia (Fundación Mapfre-Espanha-1991). Foi, entre 1975 e 1979, professor colaborador da UFRJ e se aposentou como professor Associado, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, onde lecionou e pesquisou por trinta anos. A partir de 1997 passou a escrever crônicas para uma Revista da área de Saúde.
Foi consultor, contratado, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, exercendo, de 1992 a 1994, a função de coordenador de Biomecânica no Projeto BRA/92/006. Foi o responsável pela criação do Laboratório de Biomecânica do Núcleo de Ciências da Atividade Física-NUICAF, Ministério da Aeronáutica, exercendo a sua coordenação no período de 1993 a 1995. Recebeu, em 1999, do Simpósio Internacional de Dor o prêmio TRB Pharma, pelo melhor de trabalho de pesquisa apresentado sobre a dor. Foi orientador de teses do curso de Doutorado da Faculdade de Medicina da "Universidad de Buenos Aires"-UBA , recomendado pelo orgão similar à CAPES, com nota 6. Ministrou dois mil oitocentos e sessenta cursos e conferências em diversas universidades do : Brasil, Argentina, Espanha, Portugal, Venezuela, Uruguai e Chile.
Nicolau Kietzmann Goldemberg
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Críticas
ESCRITORES, FANTASMAS E MORTOS *
UM ROMANCE ONDE SE FICCIONA A FICCIONALIDADE
“DE ESCRITORES, FANTASMAS E MORTOS” é um livro singular para reflectirmos sobre o mundo actual e nos darmos conta daquilo que é este séc. XXI.
O autor escolhe para personagem principal, a articular-se logo de início, um aposentado piloto da força aérea que página a página se transforma no epicentro de uma estranha fenomenologia para além da globalização e transcendendo o real ou filtrando a realidade pelo fantástico, “Você tem razão. Mas não se esqueça, estou morta e posso tudo. Passear pelo tempo. Me transfigurar em qualquer coisa.”.
Uma jovem veste roupas do séc. XVIII, mas não é um disfarce nem uma visão de Jean-Pierre, porque ela está ali com ele em pleno sec. XXI a relatar a violência sofrida em plena revolução francesa quando em 1792 ela (e outros) haviam sido executados diante do povo, intemporalizando ou actualizando a violência com a idade de 217 anos e que mora em Paris vai para 238 anos, da mesma forma que ele vê escritores já de há muito falecidos, numa voracidade sobre o tempo de forma a que o leitor quase se ilude pela subtileza metaforizada sob recursos digitais. Aí e por isso, parte do livro são trocas de mensagens electrónicas e interferência na intriga, que afinal está em construção, pelos blogueiros.
Como em rigorosos planos cinematográficos, as personagens deslocam-se no espaço e tempo cibernéticos, com troca de mensagens (e-mails) entre Jean e um amigo de Nova York até que, a determinado ponto, a personagem principal passa a ser o autor do livro que estamos a ler e que ainda não está escrito, existindo apenas um roteiro do autor da obra que estamos a desfolhar e que já conhecemos o que era personagem principal, o vidente Jean-Pierre.
Agora, o autor, Jerôme, descobre uma mulher, Sylvie que é a “mesa de leitura” de uma editora e sujeita o inacabado, a sinopse, para apreciação, dela, académica em letras.
Aqui começa a desmontagem para montar o livro que se lê a si próprio sem espelho e para uma referência da nossa actualidade absurda pois nós conseguimos ler, por exemplo Proust, Freud ou Machado de Assis mas nenhum deles, se reaparecesse agora como era, conseguiria ler este livro que se instala no mundo informático e utiliza um léxico gerenciador e reduz o mapa-mundi a um pequeno espaço pela comunicação e velocidade, dando-nos a sensação do digitalizar do pensamento em narrativa intemporal, sem uma verdadeira intriga mas muitos enredos cruzados em cosmicidade de ilusões necessárias mas diferentes das que todos os dias nos impingem as televisões.
O autor, aquele que está dentro do livro a fazer este livro e que passa a personagem principal, troca largas impressões com a executiva da editora no sentido de dar um rumo e fim definitivo ao texto. Ela interessa-se e um pelo outro até ao relacionamento mais intimo.
Jerôme recorre aos bloguistas e recolhe nove sugestões com textos bem lapidados com invocação de filósofos e outros agentes do saber superior. Desta forma, o livro que estamos a ler inclui a critica (apreciação) que lhe é feita, pluralizando a autoria.
Jerôme encaminha-se para um romance criminal pois, antes, já lhe chegara de interesse a notícia do assassinato de um milionário. Porém, ao ler um jornal, depara-se com o assassinato de um milionário na Bolívia.
Decide-se em viajar pela América Latina, Brasil, Argentina e Bolívia, pois um blogueiro, havia sugerido que ele visitasse as terras das suas personagens no romance.
Jerôme acaba numa cilada na Bolívia para morrer conforme o milionário assassinado, porquanto, o livro imaginado, correspondia, acidentalmente, a uma realidade e tornava-se numa denúncia sobre a alta corrupção, por isso o blogueiro mafioso insistira para que Jerôme visitasse lugares até chegar a Potosi.
Antes, não obstante a internet falhar em La Paz, conseguira enviar o texto pelo correio e o livro – que pode não ser este- acaba publicado e nas mãos de uma mulher que só pode ser Sylvie.
E foi pela informática que o motorista que conduzia Jerôme lhe disse, pelo caminho, que conhecia o livro que ele andava a escrever e, por isso, recebera instruções de transferi o “turista” para uma camioneta para depois ser executado. Afinal acabou como a jovem que ele, autor, colocara hoje no tempo da Revolução Francesa quando havia sido executada.
Com excelente domínio vocabular, conhecimentos de variados saberes e lugares, Paul Lodd, consegue um romance de profunda lucidez sobre os nossos dias, tão semelhantes a outras idades anteriores no que concerne à violência, acrescida da corrupção e da politica global que reduz o homem a usar a internet para ser seu instrumento, mundo cada vez mais surrealista, povoado de fantasmas e de conhecimentos ainda por desvendar. É um exercício também de laboratório sobre a escrita, colocando interrogações de como tratar as coisas reais se elas cada vez mais nos parecem fantasia da mesma forma que Jean-Pierre se avistava com Proust e outros para que o ajudassem a escrever o livro que ele não conseguia para, depois, aparecer o criador da personagem que se escreve sobre si, quase colocando Paul Lodd na arquibancada para assistir ao jogo. Vale a pena ler este livro quanto mais não seja porque é diferente.
*Paul Lood, ed, LIVRE EXPRESSÃO, Rio de Janeiro, Brasil, 2010
Manuel Rui
Poeta, contista, ensaísta, crítico literário, Manuel Rui Alves Monteiro nasceu a 4 de Novembro de 1941, em Angola; em Coimbra licenciou-se em Direito. Em Portugal dirigiu a revista "Vértice", em que foi colaborador. A partir de em 1974, teve passagens na polítia, tendo sido Ministro da Informação do Governo de Transição Angola e Professor universitário e Reitor da Universidade de Huambo.
ESCRITORES, FANTASMAS E MORTOS
O romance já foi desestruturado e questionado. Um gênero literário que resiste ao tempo desde que se consolidou como o mais popular, comparando-se ao conto e à poesia. Hoje, o romance talvez não esteja em seus melhores momentos e é talvez por esse motivo que uma nova leva de escritores surge procurando resgatar alguns dos valores, técnicas e estruturas literárias que sempre caracterizaram tão bem o gênero. Lodd é um deles. Uma voz que surge entre a fragmentação literária dando corpo e alma a um texto de longo fôlego inspirado em romancistas definitivos — como Proust, um de seus inspiradores. Aquele velho prazer da leitura sobrevém numa linguagem despojada, sem amarras e sem compromisso, apenas com o objetivo de fazer literatura — mais especificamente, o romance. E ainda assim, uma linguagem nova, atualizada com o tempo da tecnologia, das relações vaporosas, da globalização. Lodd tem personalidade — a do escritor que sabe muito bem o que quer das palavras.
Roberto Amado
Editor, tradutor, escritor e instrutor de cursos e oficinas litereairas com resenhas e críticas literárias na Revista Veja, Caderno 2 – Estadão, Jornal Leia, Washington Post, Representante brasileirodo International Writting Program, a convite da Embaixada Americana, para um programa de escritor “in-residence” na Universidade de Iowa. Tem três livros pela Record, Atual e Lr.
“Caro,
Acabo de ler "De Escritores, fantasmas e mortos". Adorei! O seu meta-romance, isto é um romance sobre romances, é uma apresentação excelente e fascinante de realidade e ficção. Tanto na forma como no conteúdo é surrealismo, e, pensando nas obras de Guimarães Rosa, realismo mágico.
Seja qual for a razão, os nossos agradecimentos ao autor ficcional e real de uma obra magnífica”
Carta de Russell G. Hamilton. Professor Emérito, Ph.D. Yale Univesity (1965). Professor de Literatura em Português, brasileiro e africano e lusófona, afro-baiana expressões culturais afro-Português, (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe), e a teoria pós-colonial.