Contemplado com a Bolsa de Criação Literária do Programa Petrobras Cultural, para terminar de produzir e editar seu livro Sambaqui com a seguinte justificativa dada pelos jurados: “O livro de Edson Cruz apresenta poemas curtos, de rica e instigante imagética.”, o poeta, editor e agitador (ciber)cultural lança o livro Sambaqui com o crivo de poetas e literatos como Antonio Cicero, Reynaldo Damazio, Ronald Augusto e Ricardo Silvestrin.
Figura conhecida na web, nos anos 2000, editou o histórico site de literatura CAPITU - site que fazia parte da home do UOL como indicativo para leituras e livros e, depois, concebeu o site CRONÓPIOS, onde pode dialogar, trocar e publicar grande parte da literatura contemporânea brasileira e, também, hispano-americana, até 2009, quando passou a se dedicar ao seu livro e a mediar mesas em eventos literários no Brasil, Uruguai e Argentina.
Os poemas selecionados para edição dialogam com a presença e a percepção da morte e vão na contramão de uma poética narrativa e prosaica que se tornou corriqueira em nossa poesia contemporânea. Primando pela concisão, os versos não descartam a musicalidade e a rima. A leitura embrenha os leitores na melancolia perante os fatos da vida e na direção que as coisas têm tomado. O autor comenta:
“É curioso, e talvez seja uma falha de caráter, mas quando estou alegre não consigo produzir nada que valha a pena. Mas quando leio um poema que acabo de escrever e que, penso, mantenha-se em pé, mesmo respingando bile, fico muito feliz. Paradoxos da criação.”
E completa sobre as suas inspirações: “A musa de qualquer poeta é sua biografia pessoal, sua memória, suas perdas. Seu jeito particular de ver as coisas e o mundo. Afora isso, há sempre o diálogo com o que podemos chamar de tradição poética e textual, mesmo que ela seja uma tradição bem pessoal e arbitrária”.
Nascido em Ilhéus/BA, conheceu a pobreza extrema em São Paulo e considera ter sido salvo pelo convite que lhe fez um padre, para estudar no Seminário de São Roque – em regime de semi-internato – e, quem sabe, seguir a carreira eclesiástica. Mas conseguiu escapar do que poderia ter sido sua sina tendo a oportunidade de conviver com uma biblioteca pela primeira vez na vida. Teve aulas de Latim, Francês, Espanhol, Retórica, Canto e outras coisas impensáveis para um menino em suas condições sociais e culturais. Hoje é revisor publicitário da premiada agência J.W. Thompson do Brasil.
Com humor e a inteligência navalhesca, responde quando perguntado: Aonde você quer levar os leitores?
“Sei lá. Às vezes, a pretensão é maior do que a fatura. A musa quase sempre é caprichosa. Não dá mole, assim, pra qualquer baianinho. Mas me vingo acreditando no desabafo de Freud, que disse, não sabemos se desanimado com a empreitada inglória da Psicanálise, ou com uma pontada de inveja dos poetas: ‘Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim”.
E sobre o que pretende provocar naqueles que se arriscam à leitura de seus poemas:
“Reflexão. Quiçá, alguma epifania. A poesia não tem muita moral no fim da história. Ou ela te toca, ou não. E se ela não te tocar, o azar é todo teu e não do poeta. Muito menos da poesia, que continua vicejando nas frestas dos muros e até em alguns poemas por aí”.
Contatos do autor:
EDSON CRUZ nasceu em Ilhéus, BA, e mora em São Paulo. Poeta, editor e revisor publicitário. Foi fundador e editor do site de literatura Cronópios (até meados de 2009) e da revista literária Mnemozine. Lançou em 2007, Sortilégio (poesia), pelo selo Demônio Negro/Annablume; O que é poesia?, como organizador, pela Confraria do Vento/Calibán; e uma adaptação do épico indiano, Mahâbhârata, pela Paulinas Editora. É professor no Curso Prática de Criação Literária da UnicSul/Terracota Editora, no Módulo Poema. Seu próximo desafio
na cibercultura será o site MUSA RARA – Literatura e Adjacências (www.musarara. com.br) E-mail: sonartes@gmail.com
Dados técnicos:
Título: SAMBAQUI
Editora: Crisálida Editora (www.crisalida.com.br)
Autor: Edson Cruz
Tema: poesia brasileira contemporânea
Formato: 14 x 21 cm | 64 p. | BROCHURA
ISBN 978-85-87961-63-1 | ano: 2011
Preço: R$ 20,00
Comentários críticos:
Um famosíssimo verso de Terêncio diz: “Nada do que é humano me é estranho”. Certos versos do poema “sol negro”, de Sambaqui, dizem, ao contrário: “tudo o que é humano /se tornou estranho”. Ora, sem dúvida por ter desejado que nada do que é humano lhe fosse estranho, o autor de Sambaqui tornou-se capaz de reconhecer e aceitar, olho no olho, a estranheza que de fato se abate sobre tudo o que é humano. Nesse reconhecimento e nessa aceitação, Sambaqui atinge seus mais admiráveis momentos, em diversos poemas de estranha, concisa e tensa beleza. Como dizem os versos finais do poema “salsugem”: “o que já foi / meu um dia / hoje / é alimento / da poesia”. É por não se furtar ao corpo a corpo com a estranheza da vida, da morte, da linguagem, do silêncio, da finitude, enfim, que não raras vezes – e, a cada uma dessas vezes, pela eternidade de um segundo, qual “gota de orvalho na manhã do Saara” – a poesia aqui triunfa.
Antonio Cicero
O que é e já foi, um dia, o homem – ou o ego scriptor de – Edson Cruz, está muito bem presentificado via linguagem (sistema que se exaure e se renova a cada gesto poeticamente crucial) nesse conjunto de poemas intitulado Sambaqui. Combinação de ecos, camadas: acervo harmônico, em sentido marioandradino, isto é, por oposição ao melodioso, ao dócil. O soft de base e o hard alusivo, entrelaçados em sua poesia, reconhecem similaridades entre John Cage e o samba, entre as redundâncias e a vertigem da cegueira, entre a dádiva imerecida e o sal que corrói a pele da alma. Edson Cruz é um poeta que mobiliza as palavras no poema de modo a deslustrar o entendimento pela intuição e a sugerir o entulho no antolho do sabido. O silêncio, constitutivo da composição do poema, uiva vivo em Sambaqui, para Edson Cruz trata-se de um “cão sem dono/ entregue/ à própria sorte”.
Ronald Augusto
Os poemas de Edson Cruz são navalha e acalanto; talham e afagam com o rigor de linguagem movido pela consciência dos sons e suas ressonâncias imagéticas. Entre labirintos em 3D na tela do computador, as palavras se rebelam como uivo, bile negra, sirenas a desorientar incautos Ulisses ou a enlouquecer vestais. A epifania dobra a esquina: sambaqui.
Reynaldo Damazio
O poema, esse objeto de inúmeras formas, tamanhos, assuntos, para em pé, solto no espaço. Nuvem que não se esvai. Fazer um que seja bom é raro. Edson, em Sambaqui, fez vários. Do início ao fim do livro, não perde o tom da surpresa, do dizer que desdiz, das palavras selecionadas com pinça. Para mim, “Caravana solitária” e, sobretudo, “Bile negra”, como diria o Chacrinha, vão para o trono.
Ricardo Silvestrin